Cinfães. Polícia bateu na mesa: "Em Portugal não há xenofobia", conta mãe
- 26/11/2025
A mãe do menino de 10 anos que teve os dedos amputados numa escola em Cinfães, distrito de Viseu, afirma que, depois do incidente, ao dirigir-se à esquadra local, não teve apoio das autoridades.
Em declarações ao g1, Níviam Estevam, de 27 anos, revelou que após a mutilação foi à polícia denunciar o caso, acreditando que ia receber ajuda sobre como lidar com a situação. "Tinha todas as provas estava sofrendo agressões na escola", garantiu, acrescentando que o estabelecimento "estava ciente" do bullying.
Ao fazer a queixa, sugerindo que o incidente teria sido motivado pelo facto de o seu filho ser brasileiro, o polícia que a ouvia terá interrompido Nívia, batendo com as mãos na mesa.
"Ele bateu assim na mesa, chegou bem próximo de mim e disse: 'Não vou aceitar que você fale isso aqui. Em Portugal, não existe nem racismo nem xenofobia'", contou.
O caso ocorreu no passado dia 10 de novembro, durante o intervalo da manhã. Os colegas do filho de Nívia seguiram-no até à casa de banho, fechando a porta da cabine na mão do menino, esmagando e amputando a ponta de dois dos seus dedos.
José seria vítima de bullying desde o início do ano letivo
Desde o início do ano letivo em setembro que o menino, na época com 9 anos, se queixava de um colega que gozava com ele por causa do seu sotaque, dizendo-lhe para "aprender a falar português direito". A situação terá indo escalando, resultando em puxões de cabelo, pontapés e até enforcamentos.
A criança, conta Nívia, chegou a denunciar o bullying a uma professora, que lhe terá respondido: "não seja mentiroso, você tem que ser um bom menino".
Só quase um mês depois de as agressões começarem é que a mãe conseguiu uma prova física dos incidentes: o menino chegou a casa com o pescoço roxo.
Nívia não hesitou e enviou a foto à professora, afirmando que não ia tolerar "nenhum tipo de agressão" contra o seu filho e exigindo que a escola tomasse medidas para que não voltasse a acontecer. A docente respondeu: "Amanhã vou falar com eles".
Cinco dias depois, o filho de Nívia tinha os dedos amputados.
Em resposta ao incidente, a mesma professora terá escrito à mãe que "podia ter acontecido com qualquer menino e ninguém teve intenção de magoar o José. Estavam brincando".
Nívia contou ainda ao jornal brasileiro que apenas um dos encarregados de educação dos outros colegas de José é que veio ter com ela e mostrou preocupação pelo sucedido.
"Uma mãe veio e me perguntou: 'Eu sou fulana tal, mãe de tal pessoa. Alguma vez a minha filha maltratou o seu filho?'." Ao que Nívia terá respondido: "Não que ele me tenha relatado".
Família saiu de Cinfães por "medo"
Ao mesmo jornal a brasileira confessou ter sido alvo de represálias por parte dos pais das crianças implicadas. Decidiu, por isso, mudar-se para uma cidade a cerca de uma hora de distância.
"Vim para Portugal à procura de uma vida melhor. Vivi no Porto por três anos e depois fui para uma região mais barata. Mas, agora, tenho de mudar tudo de novo. Estou com medo", admitiu.
Desde que denunciou o episódio, a família da jovem de 27 anos está temporariamente em casa dos sogros, mas já decidiu mudar-se permanentemente, por temer novas represálias.
"O meu receio é que é uma cidade pequena, como se fosse uma região no interior do Brasil. As pessoas conhecem-se todas e, como os pais dos agressores têm família e amigos na região, não sei o que podem fazer. Não sei a maldade deles", afirmou Nívia.
A mãe da criança que a mudança será feita num único dia, com a ajuda de familiares. Será também necessário matricular o menino numa nova escola, mas a jovem confessou temer que ocorram mais situações de violência, já que "muitas regiões de Portugal são racistas e xenófobas".
Leia Também: Aluno mutilado? Ministro garante a embaixada do Brasil "apurar factos"














