Cerca de 2,3 milhões de centro-africanos vão às urnas no domingo na RCA
- 26/12/2025
Na corrida presidencial concorrem sete candidatos, incluindo o atual Presidente, Faustin-Archange Touadéra, do partido Movimento Corações Unidos (MCU), que se candidata a um terceiro mandato após uma controversa revisão da Constituição, em 2023, que eliminou o limite de mandatos.
Faustin Touadéra, acusado pela oposição e sociedade civil de querer tornar-se Presidente vitalício, foi eleito em 2016 e reeleito em 2020, após uma votação perturbada por grupos rebeldes armados e manchada por acusações de fraude.
O anúncio da sua candidatura criou uma reação de rejeição e desconfiança tanto das organizações da sociedade civil quanto da oposição centro-africana.
Entre os principais opositores validados pelo Tribunal Constitucional da República Centro-Africana (RCA) para as eleições estão os ex-primeiros-ministros Henri-Marie Dondra, do partido da Unidade Republicana (UNIR), e Anicet Georges Dologuélé, da União para a Renovação Centro-Africana (URCA), que tiveram as candidaturas em risco devido a questões de nacionalidade, pois a reforma constitucional aprovada no referendo não permite a candidatura de pessoas com dupla ou múltipla nacionalidade ao cargo de chefe de Estado.
O ex-ministro da Juventude Aristide Briand Reboas, Eddy Symphorien Kparékouti, Djorie Serge Ghislain e Yalemendé Marcelin também estão na corrida presidencial.
O tribunal rejeitou as candidaturas de outros três políticos - Saint-Cyr Tanza, Parfait Zanga e Jean Michel Mandaba -, sem revelar os motivos.
O opositor político Dominique Désire Erenon, líder do partido Marcha pela Democracia e Salvação do Povo (MDSP), foi detido ao chegar do exílio após responder ao apelo de Touadéra, sendo que os motivos da detenção não foram divulgados e nem as eventuais acusações formais, o que alimentou críticas e especulações por parte de grupos da sociedade civil.
Pela primeira vez em décadas, as eleições locais, várias vezes adiadas por falta de financiamento e de uma lista eleitoral, realizam-se em simultâneo com as nacionais.
Para mitigar o risco de fraude, uma organização da sociedade civil centro-africana lançou uma plataforma 'online' - 'Surveille ton vote' (vigia o teu voto) - que irá publicar as atas saídas das mesas de voto após a contagem, visando contribuir para a transparência das eleições e garantir a integridade dos resultados num país com um histórico de votações contestadas.
Em outubro, o Bloco Republicano para a Defesa da Constituição (BRDC), uma aliança da oposição, anunciou que vai boicotar as eleições.
Embora estas eleições - presidenciais, legislativas, regionais e municipais - sejam vistas como um passo fundamental para o fortalecimento da democracia no país, a votação levanta dúvidas, depois de o diálogo entre o Governo e o BRDC, que tinha como objetivo resolver divergências sobre a organização das eleições, ter sido interrompido.
Desde 2012, a RCA sofre violência sistémica, após uma coligação de grupos rebeldes de maioria muçulmana --- os Séléka ("aliança", na língua sango) --- ter tomado a capital, Bangui, e derrubado o ex-Presidente François Bozizé, que governou dez anos, o que marcou o início de uma guerra civil.
A República Centro-Africana, um dos países mais pobres do mundo - apesar de ser rico em diamantes, urânio e ouro -, tem vivido uma sucessão de crises desde a sua independência de França, em 1960.
Em 2020, os grupos rebeldes que ocupavam mais de dois terços do território reuniram-se para lançar uma vasta ofensiva sobre Bangui.
A situação de segurança melhorou significativamente graças ao apoio da Missão Multidimensional Integrada de Estabilização das Nações Unidas no país (Minusca), dos contingentes ruandeses e da controversa intervenção dos paramilitares do grupo russo Wagner, embora continue extremamente instável nas estradas e nas regiões do leste do país, na fronteira com o Sudão e Sudão do Sul.
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