Camboja agradece mediação da China em conflito histórico com Tailândia
- 20/12/2025
O enviado especial do Ministério dos Negócios Estrangeiros para os Assuntos Asiáticos, Deng Xijun, deslocou-se à região para tentar aproximar as posições dos dois países, cujo conflito se reacendeu há cerca de duas semanas.
O primeiro-ministro do Camboja, Hun Manet, saudou os esforços de Xi "para restabelecer a paz entre ambos os países e manter a paz e estabilidade regionais", disse a diplomacia cambojana num comunicado citado pela agência noticiosa espanhola EFE.
Durante a viagem ao Camboja, Deng reuniu-se com Hun, e com vários ministros e comandantes do país do Sudeste Asiático, estando também previstos encontros na Tailândia, segundo informou Pequim na quinta-feira.
Phnom Penh assinalou que foi sublinhada "a necessidade urgente de um cessar-fogo imediato" e que "o diálogo pacífico continua a ser a única via viável para resolver as diferenças" entre a Tailândia e o Camboja.
Os dois países estão envolvidos numa disputa territorial histórica pela soberania de territórios próximos da fronteira comum, de cerca de 820 quilómetros, cartografada pela França em 1907, quando o Camboja era uma colónia francesa.
O ministro dos Negócios Estrangeiros chinês, Wang Yi, apelou na quinta-feira aos dois países para que declarassem "o quanto antes" a cessação das hostilidades e procurassem "reconstruir a confiança mútua".
O apelo foi feito em conversas telefónicas com os chefes da diplomacia do Camboja e da Tailândia.
"A China é a primeira a não querer ver os dois países a empunhar armas", acrescentou Wang.
Uma nova vaga de ataques cruzados eclodiu em 07 de dezembro na fronteira, naquele que é o pior episódio de violência desde o conflito de julho, que durou cinco dias e causou 50 mortos.
Os confrontos mais recentes já provocaram quase 60 mortos.
O Presidente norte-americano, Donald Trump, vangloria-se de ter posto fim às hostilidades de julho.
Trump anunciou que voltou a mediar o recente agravamento de tensões em chamadas telefónicas para Hun Manet e para o primeiro-ministro tailandês, Anutin Charnvirakul.
O conflito atual resulta de uma disputa histórica pela fronteira estabelecida quando a França ocupava a então Indochina e pela soberania de templos hindus.
Os exércitos dos dois países lutam pelo controlo de áreas onde se situam edifícios religiosos do século XI, altura em que a região era controlada pelo Império Khmer (802-1431).
Um dos precedentes mais significativos da disputa de soberania é o templo de Preah Vihear, um grande complexo construído no topo de uma falésia de 525 metros que funciona como fronteira natural entre os dois países.
O Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) de Haia sentenciou em 1962 que o templo, declarado Património Mundial da UNESCO em 2008, se encontra em terreno cambojano.
Banguecoque acatou então a decisão, mas manteve a reivindicação sobre o terreno adjacente, já que a única via de acesso era através de estradas provenientes da Tailândia.
A disputa remonta ao acordo de março de 1907 entre o então reino do Sião, atual Tailândia, e a França, que ocupava o território que agora é o Camboja.
O acordo destinava-se a trocar o controlo de algumas regiões e estabelecer uma linha de fronteira entre as duas nações.
Contudo, segundo as autoridades tailandesas, a demarcação real da fronteira desviou-se do texto do tratado, incluindo o território em redor do templo de Preah Vihear.
A discórdia arrastou-se até à atualidade e tem provocado vários confrontos, exacerbados em momentos de debilidade política e económica nos dois países.
As fricções sobre as reivindicações territoriais já tinham causado conflitos em 2008 e em 2011, que provocaram mais de três dezenas de mortos.
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