Câmara de Lisboa aprova Rui Lopo para presidir à Carris sob críticas
- 10/12/2025
O executivo municipal aprovou hoje, por voto secreto, uma proposta do presidente da autarquia, Carlos Moedas (PSD), e do vice-presidente, Gonçalo Reis (PSD), para designar o representante do município na assembleia-geral da Companhia Carris de Ferro de Lisboa e dos titulares dos órgãos sociais da empresa.
Os vereadores do PS optaram por não participar na votação, por considerarem que Moedas conduziu "todo o processo com falta de transparência e sem prestar os esclarecimentos politicamente devidos à câmara".
O executivo aprovou a designação do vice-presidente como representante da câmara na assembleia-geral, mandatando-o para a eleição do presidente Rui Lopo (11 votos a favor e três abstenções) e de Ana Paula Carioca e Francisco Pinto Machado como vice-presidentes da Carris.
A administração será ainda composta pelas vogais executiva Mariana de Sousa Costa e não executiva Teresa Passo de Sousa, e a mesa da assembleia-geral por Helena Pires Coelho (presidente), Pedro Brito Dinis (vice-presidente) e José Miguel Bibe (secretário).
Numa nota enviada antes à Lusa, Carlos Moedas explicou que Rui Lopo "é uma opção clara por um gestor com provas dadas no setor da mobilidade, à escala metropolitana, e que melhor defende o futuro da empresa e os desafios" da Carris.
O administrador na Transportes Metropolitanos de Lisboa (TML) teve "nos últimos anos um papel decisivo de coordenação e responsabilidades sobre a Carris Metropolitana, sobre o passe Navegante e sobre múltiplas operações de transportes públicos rodoviários na região de Lisboa", referiu.
Os socialistas liderados por Alexandra Leitão esclareceram que a ausência na votação "não tem qualquer relação com as pessoas ou perfis indicados, mas exclusivamente com a forma como o presidente geriu o processo" do acidente do Elevador da Glória, que descarrilou em 03 de setembro, provocando 16 mortes e mais de 20 feridos.
"Desde o início, o PS rejeitou qualquer aproveitamento político do acidente, nomeadamente pedidos de demissão, defendendo apenas que, em sede própria -- a Câmara de Lisboa --, fossem plenamente esclarecidos todos os factos. Tal nunca aconteceu", afirmaram os socialistas, numa nota.
Ausente do país, o vereador do Chega Bruno Mascarenhas disse à Lusa que "a administração da Carris foi validada pelos votos do Chega" e que "há muito a mudar na empresa".
"Os inquéritos em curso não são postos em causa. Nem quanto às responsabilidades do anterior executivo da câmara, nomeadamente de quem tinha a responsabilidade política, nem quanto à administração demissionária, face ao que ocorreu na tragédia do Elevador da Glória", afirmou.
A assessoria do vereador comunista, João Ferreira, explicou numa nota que "o PCP não tem por prática adotar posições de bloqueio à gestão municipal" e que, "estando colocada a necessidade de eleição de um novo conselho de administração", em virtude do "anterior estar demissionário, em circunstâncias que são conhecidas", entendeu abster-se.
Para o PCP, qualquer administração "tem a sua ação balizada pelas opções políticas da gestão municipal" e a Carris, nos últimos anos, "não tem assegurado a resposta necessária ao nível da prestação de um serviço público que é estruturante da mobilidade na cidade".
A vereadora Joana Alves Pereira justificou que o Livre votou a favor de Rui Lopo pelo "seu perfil e currículo em matéria de transportes na Área Metropolitana de Lisboa, mas a escolha de uma boa liderança só produz resultados se tiver respaldo político e financeiro".
"Foi o que faltou no passado mandato, marcado por decisões que prejudicaram objetivamente o transporte público em Lisboa, e manchado pelo terrível acidente do Elevador da Glória, sem que a responsabilidade política tenha sido assumida", acrescentou, estranhando "que o chefe de gabinete do vice-presidente da câmara" com "o pelouro da Mobilidade à data do acidente seja agora nomeado para vice-presidente" da Carris.
Para o Bloco de Esquerda, representado pelo vereador Ricardo Moreira (em substituição da vereadora Carolina Serrão), "Moedas quer esconder erros da tragédia do Elevador da Glória com a nomeação de uma nova administração sem ter prestado esclarecimentos".
O BE criticou a apresentação de uma nova administração da Carris, sem que o presidente da autarquia tenha "apresentado justificação para os vários erros que o GPIAAF [Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e Ferroviários] identificou nos procedimentos da Carris e que podem ter contribuído para a tragédia".
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