Britânicas presas no Sri Lanka após ciclone. Governo diz: "Não há plano"
- 03/12/2025
Duas mulheres britânicas estão presas nas chamadas montanhas do chá no Sri Lanka devido aos deslizamentos de terra, causados pelas chuvas intensas que assolam o sudeste asiático.
Melanie Watters, de 54 anos, e Janine Reid, de 55, ambas de Londres, no Reino Unido, estavam num passeio de carro pelas montanhas de Kandy, no centro do Sri Lanka, na quinta-feira, quando foram forçadas a parar. A estrada à sua frente estava completamente alagada, com o nível da água tão elevado - e com tamanha força - que levou um autocarro perto delas a cair de um penhasco.
"Elas estavam a viajar de Kandy para o sudeste. Inicialmente, iam de comboio, mas aconselharam-nas a ir de carro. Elas não estavam numa excursão nem nada - eram só elas", conta Katie Beeching ao The Guardian, que tem conseguido falar com a mãe de forma intermitente, conforme o tempo vai deixando.
"Na quinta-feira a meio do dia, começámos a receber mensagens que basicamente diziam: 'Isto é muito assustador, há deslizamentos de terra por todo o lado. Vimos um autocarro a cair de um penhasco'", diz Katie, relatando a história da mãe e da amiga, que estavam numa viagem de duas semanas ao Sri Lanka. Saíram de Londres a 21 de novembro e era suposto regressarem esta quarta-feira.
"Onde elas estavam foi onde houve mais mortes, porque os deslizamentos de terra simplesmente cobriram as casas das pessoas. O condutor deu a volta e eles estavam a regressar a Kandy, mas só conseguiram chegar a um lugar chamado Pusselawa."
A primeira noite em que ficaram presas nas montanhas, foi passada dentro do carro, preso na lama e em risco de ser levado pela água - à semelhança do que tinha acontecido com o autocarro. Mesmo assim, era mais seguro do que saírem do veículo e irem pelo próprio pé. O temporal, lá fora, ia piorando e piorando, mas as amigas sobreviveram à noite.
No dia seguinte, o grupo preso nas montanhas conseguiu sair do local e, desde então, conseguiu abrigar-se numa plantação de chá próxima. O abrigo, permitiu-lhes escapar ao ciclone que assola o país, mas, quase uma semana depois de terem ficado presas, água, comida e até combustível começam a escassear. Enquanto isso, a passagem que as levaria de volta à segurança, continua intransitável.
Ministério britânico diz que "não há um plano" para ajudar cidadãs
Katie conta que já fez inúmeras chamadas para o Ministério dos Negócios Estrangeiros britânico, na procura de ajuda para a sua mãe e para a amiga, mas até ao momento, diz, não lhe foi dada qualquer solução.
"Este é o vosso trabalho", disse Katie ao ministério. Do outro lado, responderam: "Não é da nossa responsabilidade".
"Há literalmente duas cidadãs britânicas sozinhas, sem comida, água, combustível; sem forma de entrar ou sair. Está a ficar pior. O tempo vai mudar outra vez, em poucos dias. Tem de haver um plano…", insistiu a filha de Melanie, grávida de nove meses. "Isto pode significar a perda de vidas se vocês não agirem."
Do ministério, apenas disseram: "Não, não há um plano".
Desiludida com a falta de ação por parte das autoridades britânicas, Katie tentou ainda falar com o Alto Comissário do Reino Unido no Sri Lanka, Andrew Patrick, mas também sem sucesso.
"[A polícia do Sri Lanka] disse que o exército ia chegar ao local há alguns dias, mas ainda não o fizeram. Elas [Melanie e Janine] conseguem ouvir os helicópteros a voar por cima delas, mas aparentemente eles estão a recuperar corpos", conta ainda Katie.
Mais de 1.200 mortos no sudeste asiático devido às chuvas torrenciais
Estima-se que cerca de 1,5 milhões de pessoas tenham sido afetadas pelos desastres resultantes das chuvas torrenciais que atingiram o Sri Lanka, e o restante sudeste asiático. Ao todo, nesta região da Ásia, o número de mortos já ultrapassou os 1.200, sendo que deverá ainda aumentar, devido às centenas de pessoas que continuam desaparecidas.
No Sri Lanka, mas também na Indonésia, Filipinas, Malásia, Vietname, Tailândia e Myanmar, assim como em algumas partes do Camboja e do Laos, foi registada a maior quantidade de chuva desde novembro de 2012. Os dados são da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos EUA (NOAA, na sigla em inglês).
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