Belém? "Leiam os meus lábios: Não vou desistir", garante António Filipe
- 07/11/2025
O candidato à Presidência da República António Filipe garantiu, esta sexta-feira, que se fosse eleito "cumpriria a Constituição", elencando este dever como o primordial para um chefe de Estado.
Em entrevista à RTP, o candidato apoiado pelo Partido Comunista Português (PCP) considerou que "o que se pretende de um Presidente da República é que exerça as competências que a Constituição lhe dá", protegendo e sendo "vigilante relativamente ao cumprimento" deste documento. Contudo, frisou que não esconde as suas tendências políticas: é, e sempre foi, comunista.
Governo de extrema-direita? "Impossibilidade lógica"
Questionado sobre o que faria se estivesse no cargo numa altura em que um Governo de extrema-direita fosse o mais votado numas legislativas (e obtivesse maioria absoluta), António Filipe afastaou rapidamente a pergunta, dizendo que se trataria de "uma impossibilidade lógica". "Dificilmente o mesmo eleitorado conseguiria eleger um Presidente da ala comunista e um executivo do Chega", explicou, admitindo que, nessa situação "não podia inventar um primeiro-ministro que não existe".
Lembrou ainda o exemplo da Geringonça, em 2015, com uma solução governativa que foi alternativa à liderança por parte do partido mais votado. "Seja qual for a solução governativa, se o Presidente tiver de conviver com um Governo que politicamente lhe seja adverso tem de cumprir", frisou.
"É evidente que tudo farei para que não haja governos em Portugal com partidos da extrema direita", referiu ainda.
Em qualquer caso, o seu trabalho principal, e o qual exerceria com qualquer partido no poder, seria o de ser "vigilante": "O Presidente da República é o guardião último da Constituição [...], do regime democrático".
"Portugueses fizeram opções erradas"
Na altura em que anunciou que era candidato, recordou, eram apenas conhecidas as candidaturas de Henrique Gouveia e Melo, Luís Marques Mendes e de António José Seguro (que, inicialmente, não se definiu como um candidato de Esquerda). Isso, aliado ao facto de, neste momento, todos os órgãos de soberania serem liderados pela direita, fez com que decidisse que era importante apresentar a sua candidatura.
"Os portugueses têm capacidade de discernimento, mas fizeram opções que, maioritariamente, eu considero erradas", confessou, referindo-se ao domínio da Direita na maioria dos órgãos do poder. "São legítimas - assim como é legítimo que eu pretenda reequilibrar isso pela vontade popular. Ou seja, eu acho que os portugueses têm a possibilidade de eleger um Presidente de Esquerda que possa ser um contraponto."
O candidato propôs ainda a ser um Presidente que "não se conforme com o estado de coisas", nomeadamente, com a situação na Saúde, do acesso à Habitação, ou mesmo com a vida dos trabalhadores "que empobrecem a trabalhar".
"Tenho de estar preocupado com isto, e acho que o Presidente deve estar preocupado, e deve usar as suas competências no sentido de usar a sua magistratura de influência e também os seus poderes constitucionais para alterar este estado de coisas", sublinhou, acrescentando: "Não nos podemos sentir tranquilos ou confortáveis com a situação que o povo português está a viver."
António Filipe defendeu ainda que, para si, um chefe de Estado "não deve ocultar as suas opiniões perante os portugueses: deve ser franco, deve falar claramente, não se deve esconder em tactismos políticos".
"Mesmo que o Presidente tenha um veto político que seja ultrapassado" deve fazer chegar, à mesma, a sua opinião aos deputados e "deve ser frontal, deve confrontar a Assembleia da República com a sua opinião, se considerar que a legislação aprovada vai contra aquilo que considera ser o interesse do povo português".
António Filipe discorda com apoios financeiros e militares à Ucrânia
Já no quadro internacional, o candidato fez questão de frisar que "não estaria numa Presidência da República com uma camisola partidária", quando questionado sobre a sua posição quanto à guerra da Ucrânia. Contudo, admitiu que não concorda com o apoio militar e financeiro que a União Europeia (UE), e com ela Portugal, enviam a Kyiv desde o início da guerra.
"Não é alimentando a guerra, que pomos termo à guerra", defendeu. "A melhor ajuda que Portugal podia dar à Ucrânia era colaborar para que haja, de uma vez por todas, um esforço de paz que ponha termo àquela guerra e, então depois, podemos falar tranquilamente", disse.
Quanto à posição de Portugal nas organização europeias, nomeadamente a NATO e a UE, o candidato considerou que o país "devia ter uma voz própria" e "não subordinar a sua política de defesa ou a sua política externa aos interesses supranacionais, aos interesses de potências mais relevantes ou poderosas".
"Leiam os meus lábios: não vou desistir"
Questionado sobre a disponibilidade de desistir de uma ida à segunda volta em prol de uma candidatura de Esquerda melhor colocada, António Filipe respondeu: "Longe de mim".
"Perentoriamente, e que fique aqui claro, leiam os meus lábios: eu não vou desistir a favor de ninguém. Vou à primeira volta, com a ambição de chegar à segunda."
Questionado sobre eventuais cenários de resultados diferentes, António Filipe afastou comentários, considerando que "não vale a pena estarmos com essas perguntas", equiparando a situação a jogar no Totobola.
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