Bebé deixa de ter 60 crises epiléticas/dia após ser operado no Sta Maria
- 16/12/2025
Vicente tinha apenas quatro meses e meio quando a mãe, Joana, reparou que algo não estava bem. "Um dia, enquanto o amamentava, parou de mamar e fixou o olhar num canto da parede do quarto, enquanto fazia um burburinho".
Foi um dos vários "sustos" que o bebé pregou aos pais nos três dias seguintes e que motivou a procura imediata de ajuda especializada.
Oriunda da zona de Portalegre, e após exames iniciais, como conta a Unidade Local de Saúde (ULS) de Santa Maria no seu site oficial, a família foi referenciada para Sofia Quintas, neuropediatra no Departamento de Pediatria do Santa Maria, onde a displasia cerebral se confirmou.
A falta de resposta à medicação para a epilepsia e as condições favoráveis à craniotomia culminaram numa cirurgia, no bloco operatório do Hospital de Santa Maria, em Lisboa, realizada no final de novembro, altura em que o bebé chegava a ter mais de "60 crises de epilepsia por dia".
Para os médicos, "um dos desafios deste procedimento numa criança tão pequena relacionava-se com a dificuldade em localizar exatamente a extensão da malformação cerebral", realçou a ULS.
O procedimento – uma craniotomia com remoção de displasia, intervenção pouco frequente numa criança tão pequena – resultou de um extenso trabalho multidisciplinar e foi um sucesso. "O Vicente deixou de ter crises desde a cirurgia e manteve-se assim nas semanas seguintes", anunciou o maior hospital da capital.
"Por vezes, a malformação estende-se para além do que se vê na ressonância. Nestas idades, alcançar o detalhe é muito difícil", explicou o neurocirurgião Alexandre Rainha Campos, um dos elementos do CRER, centro de referência da ULSSM coordenado pela neurologista Carla Bentes.
Porém, como também detalhou o neurocirurgião, "tratava-se de uma displasia com bom prognóstico e um potencial de cura da epilepsia muito elevado".
"Uma cirurgia de epilepsia no seu máximo esplendor"
Tratando-se de um caso particularmente grave, em que a criança tinha 40 a 60 crises por dia, o impacto no desenvolvimento da criança seria marcado. Até à data, o seu desenvolvimento era perfeitamente normal e a melhor maneira de o manter assim seria avançar para o procedimento.
Por essa razão, um grupo de especialistas, desde os neurocirurgiões de epilepsia, neurofisiologistas, neuropediatra, neurorradiologista, técnicas de neurofisiologia e equipas de enfermagem, "fizeram um detalhado e importante trabalho prévio e de investigação", notou o hospital.
Antes da intervenção, foi feito um estudo de imagem por ressonância magnética com uma sequência em 3D especial para planear com o maior rigor possível a extensão da lesão.
Como relatou Alexandre Rainha Campos, no site do Santa Maria, "o Dr. Carlos Morgado teve de desenhar uma sequência específica para conseguirmos navegar e fazer o mapeamento daquilo que parece estar mal no cérebro desta criança, do ponto de vista estrutural, para depois nos dar uma orientação mais precisa. Nestas idades o cérebro ainda não tem a mielinização completa e torna-se muito difícil, com as sequências habituais, ver com precisão a extensão destas lesões".
Já a cirurgia implicou, além dos neurocirurgiões do CRER, um neurocirurgião pediátrico, duas neurofisiologistas, três técnicas de neurofisiologia, anestesista e enfermeiros, num verdadeiro trabalho de equipa multidisciplinar.
"É uma cirurgia de epilepsia no seu máximo esplendor", destacou Alexandre Rainha Campos.
"É o culminar de um vasto trabalho prévio, que implica um treino muito exaustivo de todas equipas", salientou ainda o especialista.
Desde o pré-operatório, para localizar as crises, à presença do neurologista/neurofisiologista na sala que faz um eletroencefalograma no decorrer da cirurgia, permitindo detetar melhor as áreas cerebrais com atividade anormal a remover, estas cirurgias exigem uma invulgar diferenciação técnica.
Se a cirurgia demorou cerca de cinco horas, a recuperação do Vicente foi muito rápida. Duas semanas depois, o bebé continua sem crises e em normal desenvolvimento e a família de volta a casa com um enorme sentimento de gratidão e alívio, "com a possibilidade de acabar de vez com as crises", admitiu a ULS.
"Ainda há um caminho a percorrer para confirmar a cura da epilepsia do Vicente, mas esta família terá certamente um Natal mais feliz!", salientou o Hospital de Santa Maria.
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