Alice Azevedo estreia "Prometo-me moderna", manifesto por mulheres trans

  • 10/12/2025

"O que eu fiz, e é o meu tipo de adaptações preferidas quando amo muito o objeto original, [foi] tentar ser fiel aos temas e à estrutura de arcos que o livro tem", afirmou Alice Azevedo à imprensa, no final de um ensaio da peça, embora reconheça que não foi "religiosamente fiel à narrativa, nem aos detalhes, nem às personagens", mas sim aos temas.

 

Publicado em 1818 pela autora britânica Mary Shelley (1797-1851), o livro, que viria a dar origem a várias produções teatrais e cinematográficas, juntava terror e sobrenatural, acabando por contribuir para a criação da literatura de terror e antecipando também a de ficção científica.

A narrativa da obra centra-se num cientista ambicioso de nome Victor Frankenstein, que se dedicara a estudar como dar vida a uma criatura formada por parte de cadáveres de humanos.

O cientista consegue dar vida a um ser enorme, que reage por impulsos elétricos, ficando contente pela descoberta para, pouco depois se aperceber do que acabara por criar, já que a sua criação foge do laboratório, acabando por vir a encontrar-se com o criador, em revolta.

A peça que Alice Azevedo põe em palco no S. Luiz, após uma versão com algumas diferenças estreada na edição deste ano do Citemor, acaba por ser um manifesto a favor do movimento trans, do qual a artista e ativista faz parte.

Uma ideia que a própria disse aos jornalistas não ser da sua autoria, atribuindo-a ao texto "My Words to Victor Frankenstein above the Village of Chamounix -- Performing Transgender Rage", escrito em 1994 pela académica norte-americana Susan Stryker.

O texto, "performando raiva trans", foi também apresentado pela autora numa conferência para "explorar essa ideia de uma transexual ou de uma transexualidade que fala aos seus criadores", notou Alice Azevedo.

"Seja à sociedade que cria uma imagem dela como monstro, seja à medicina que, se por um lado cria as ferramentas que pessoas trans utilizam em cuidados de saúde trans específicos, por outro lado também a controla e recusa subjetividade e agência nesse processo medicalizado", acrescentou Alice Azevedo sobre o espetáculo em que diz "não ter inventado nada".

O momento alto da peça surge com um manifesto em que personagens mostram orgulho por serem quem são, como são e onde ainda são mencionados tabus que a sociedade lhes cola e impõe.

A peça, onde os temas são tratados de forma séria, mas bem-disposta, desconstruindo mitos e com muita música, não acaba, todavia, com o manifesto, por Alice Azevedo gostar de, tal como Mary Shelley, "prólogos e posfácios".

Questionada sobre se não é excessivo equiparar mulheres trans a monstros, Alice Azevedo admitiu que "gostava de acreditar que muita gente ficaria chocada ao ouvir comparar mulheres trans a figuras monstruosas".

"Mas, infelizmente, acho que muita gente não se chocaria. Acho que essa carga de monstruosidade seja por pessoas trans, seja sobre outras categorias sociais de pessoas, é uma carga que é imposta, que é criada, são narrativas que são disseminadas e alimentadas, e do nosso lado, resta-nos fugir a elas, normalmente, sem grande escapatória, ou enfrentá-las", enfatizou.

Alice Azevedo sublinhou ainda a atualidade da peça, numa altura em que discursos de extrema-direita ganham voz, com tudo o que isso acarreta, concluiu.

"Prometo-me moderna" está em cena na sala Luis Miguel Cintra até dia 21, com récitas de quarta-feira a sábado, às 20:00, e, ao domingo, às 17:30.

Com texto e encenação de Alice Azevedo, a peça tem apoio à criação e ao movimento de Bruno Huca e a interpretar estão Alice Azevedo, June João, Lila Vivo, Stela e Vítor Silva Costa.

O desenho de luz é de Manuel Abrantes, o cenário de Daniela Cardante, a sonoplastia de Surma, os figurinos de Behén, enquanto a operação e desenho de som são de Guilherme Gonçalves.

"O Teatro São Luiz informa que a Greve Geral prevista para 11 de dezembro poderá afetar alguns serviços e originar eventuais alterações e/ou cancelamento de espetáculos", lê-se na página do teatro na Internet, que aconselha o público à consulta regular do 'site' e redes sociais para atualizações.

Leia Também: Peça de Vera Mantero desce a espiritualidade do céu ao chão com humor

FONTE: https://www.noticiasaominuto.com/cultura/2902607/alice-azevedo-estreia-prometo-me-moderna-manifesto-por-mulheres-trans#utm_source=rss-ultima-hora&utm_medium=rss&utm_campaign=rssfeed


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