3.090 migrantes morreram este ano a tentar chegar a Espanha em pateras
- 29/12/2025
"Entre janeiro e 15 de dezembro de 2025, 3.090 pessoas perderam a vida, das quais 192 eram mulheres e 437 eram meninos, meninas e adolescentes", lê-se no relatório agora divulgado da Caminando Fronteras.
A maioria destas 3.090 vítimas morreu na designada "rota atlântica", que tem como destino as ilhas Canárias.
Nesta "rota atlântica", que "continua a ser a mais mortífera", morreram 1.906 pessoas até 15 de dezembro, "apesar de registar uma diminuição significativa no número de chegadas e tragédias" com estas embarcações precárias, conhecidas como 'pateras' ou 'cayucos'.
Em contrapartida, a "rota argelina", no Mediterrâneo, entre as costas da Argélia e as ilhas Baleares, transformou-se em 2025, "na passagem migratória mais transitada", ultrapassando a "rota atlântica para as Canárias".
Nesta "rota argelina", foram documentadas pela Caminando Fronteras 1.037 mortes em "121 tragédias marítimas" este ano.
"O trajeto de Argélia às ilhas Baleares, especialmente Ibiza e Formentera, reafirma-se como um dos mais perigosos devido à distância e à dificuldade do percurso", realçou a ONG.
"Trata-se, além disso, de uma das rotas mais opacas e ocultada pelas instituições, o que aumenta a desproteção do direito à vida, atrasa a ativação dos sistemas de procura e resgate e evidencia a escassa cooperação entre países", acrescentou.
A Caminando Fronteras indicou que neste ano houve "303 tragédias" com 'pateras' e 'cayucos', incluindo "70 embarcações que desapareceram sem deixar rasto".
Entre as vítimas mortais identificadas pela ONG havia pessoas oriundas de 30 países, a maioria africanos, mas também do Bangladesh, Paquistão ou Síria.
A ONG realçou que, no caso das Canárias, que em 2023 e 2024 lidaram com um pico de chegadas de embarcações precárias com migrantes a bordo, apesar da diminuição dos números este ano, "abriu-se uma nova rota migratória mais longa e mais perigosa", com origem na Guiné Conacri.
A Caminando Fronteras elabora anualmente dois relatórios sobre os migrantes que morrem no mar a tentar chegar a Espanha, com base em dados oficiais e de associações de comunidades migrantes, assim como testemunhos e denúncias tanto das comunidades como de famílias de desaparecidos, seguindo metodologias usadas pelas ONG para contabilizar vítimas em diversos pontos do mundo, como acontece na fronteira entre o México e os Estados Unidos.
Neste último relatório, foi registada uma diminuição substancial no número de vítimas este ano, em comparação a 2024, quando a ONG documentou um recorde de 10.457 mortos, numa média de quase 30 por dia.
"A redução do número global de pessoas mortas nas fronteiras não é consequência de uma maior proteção do direito à vida. Apesar da descida estatística, estamos a registar um aumento do número de tragédias, já que muitas das rotas atuais usam embarcações com menos pessoas a bordo, o que fragmenta os números sem reduzir a letalidade. Ao mesmo tempo, observa-se um aumento das tentativas de chegada e dos episódios mortais", disse a coordenadora da Caminando Fronteras, Helena Maleno, citada num comunicado da ONG.
A organização realçou que este estudo "conclui que as mortes e desaparecimentos nas fronteiras do Estado espanhol ocorrem num contexto marcado pela ativação insuficiente dos dispositivos de resgate e pela externalização do controlo e da gestão fronteiriça", originando "dinâmicas que aumentam a vulnerabilidade e a desproteção das pessoas durante os trajetos migratórios", com "falta de coordenação entre Estados e a omissão de resgate".
A ONG salientou a sobreposição de princípios e políticas de controlo de fronteiras e de migrações aos de proteção do direito à vida e salvamento, resultando numa "arbitrariedade nos resgates" que "provocou atrasos ou inação perante embarcações claramente em risco, gerando naufrágios e mortes evitáveis, bem como abandono para aqueles que solicitaram ajuda em condições de risco crítico".
Dados oficiais do Governo de Espanha apontam que 32.212 pessoas chegaram este ano, até 15 de dezembro, ao país a bordo de 'pateras', menos 44,3% do que no mesmo período de 2024.
Espanha aproximou-se em 2024 do número recorde de chegadas irregulares de migrantes num só ano. A grande maioria, 73% do total, foi feita pela rota das Ilhas Canárias, através da qual cerca de 46.843 pessoas tentaram alcançar território espanhol em 2024.
Este ano, até 15 de dezembro, as autoridades espanholas registaram a chegada às Canárias de 17.555 migrantes em 'pateras', uma diminuição de 60% em relação a 2024.
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